Crônica

Visitante ilustre

agosto 29, 2025 · Pedro K. Calheiros

Estive a ler, após um longo período imerso numa ressaca literária, Drácula, do escritor Bram Stoker. Há algum tempo essa obra já havia chamado minha atenção, mas foi só recentemente que me dei a veneta de me aventurar pelas páginas vampirescas da ficção.

Há quem diga que atraímos tudo com a nossa mente – e eu concordo. O pensamento gera sentimento e, a partir de um desejo ardente, criamos um plano para conquistar o que quisermos.

Ocorre que, vez ou outra, acabamos por atrair coisas simplesmente por estarmos sintonizados com determinada energia, não necessariamente porque as desejávamos. O Universo entende que, por estarmos vibrando naquela frequência, devemos acessar os pormenores que delineiam esse mundo.

Foi assim que, numa noite qualquer de julho, um morcego invadiu meu apartamento. Iniciei uma verdadeira guerra contra ele. O gato laranja, medroso, mais atrapalhou do que ajudou.

A noite já avançava e, como todos sabemos, morcegos são noturnos. Por essas e outras, decidi continuar a caçada no dia seguinte, sob a luz do Sol.

Comecei procurando o protótipo de rato voador. Percebi, após ele se entregar com um grunhido esquisito, que estava preso dentro do sofá.

Peguei uma faca e, como se fosse um bisturi, rasguei a parte inferior da mobília; precisava acessar o interior para cumprir minha honrosa missão de capturar o meliante.
Ele saiu voando baixo e meu gato o agarrou – mas logo fugiu. Até que, desesperado, o bicho se enfurnou no quarto de hóspedes.

Meus óculos, durante a caçada, estavam sabe-se lá onde; foi quando, num ímpeto de sorte, joguei um livro sobre ele, e o pobre caiu no chão ainda a gritar.
Eu estava feliz. A minha mira, apesar do pouco treino, ainda estava afiada.

O gato foi logo em cima da presa. Foi então que, ao me aproximar do visitante indesejado, percebi: o morcego, na verdade, era um passarinho.