Conto
Telefonema clandestino
O telefone é atendido no primeiro toque.
— A sua inércia é uma escolha.
— Mas eu te disse que…
— Você já escolheu.
— Não entendo o que quer dizer… Você sabe que não é tão simples.
— As coisas são como são. Não pinte com lápis de cor.
— E agora?
— O de sempre; transformar o caos em poesia.
— E tudo o que…
— Um delírio. Ficaremos bem. Como pode a alma sentir falta do que nunca lhe pertenceu? O drama só é bonito na poesia. A vida é mais simples do que a gente finge.
— Alô? … Alô?
— Quem era, amor?
— Ninguém.
— Tem certeza?
— Tenho sim.