Crônica

Promessa cumprida

novembro 13, 2025 · Pedro K. Calheiros

Era um clima de despedida que pesava no ar como aquele mormaço de fim de tarde no interior. Tudo turvo. Tudo meio fora de foco. O enterro do meu pai, em Itacoatiara, carregava um silêncio que parecia maior do que a cidade inteira. E ainda tinha os olhares contrariados, gente que nunca acreditou na força do Artur, no talento dele, na persistência que sempre foi a marca mais teimosa do meu irmão.

Eu estava atravessando meu próprio caos, tentando entender a cerimônia enquanto o mundo seguia acelerado demais. A relação com nosso pai sempre foi boa, firme, dessas que criam espinha dorsal. E o Artur, mesmo sendo o mais velho, sempre carregou um traço de rebeldia que ninguém domava. Demorou, desviou do caminho esperado, reinventou rotas, mas nunca é tarde para ajeitar a própria vida. E ele ajeitou.

No dia em que enterramos Francisco Calheiros, ali em Itacoatiara, o Artur fez uma promessa pública: concluir o curso de Direito e se tornar advogado. A voz trincada, o coração aberto, o compromisso firmado diante de todos. Hoje, a promessa está cumprida.

A família Calheiros tem mais um causídico. Mérito dele. Orgulho nosso.

Em breve, serei o próximo.