Escultura inacabada
A escultura de Lego que não tivemos tempo de montar é metafórica; a expectativa de uma construção que as circunstâncias nos deixaram sem a imagem do fim. Hoje a minha poética amanhece triste. O Sol, que antes incendiava a minha alma, esfriou.
Uma estranha melancolia me visitou antes da tua chegada; algo no meu peito já pressentia o fim, uma voz me sussurrava a dizer que era o nosso último encontro. Ignorei os sinais como quem tenta vibrar positivo numa esperança de mudar o desfecho de um filme que já sabe o fim.
Hoje de manhã, quando abracei o Bart, senti teu perfume. Ao observar o quarto vazio, senti ecoar nas paredes o som da tua voz. Minha manhã via detalhes teus na pedra sobre a escrivaninha, na pulseira vermelha do meu pulso e na câmera fotográfica de Lego que eu terminei de montar sozinho.
Nós estaremos no coração um do outro como uma memória bonita que o tempo não é capaz de apagar. Há qualquer coisa de eterno na nossa história: depois da tua dialética, a minha escrita e o meu coração são divididos em um antes e um depois.