Ensaio sobre a arte do flerte
Preparei o meu café e, distraído, acabei por deixar que esfriasse. Pensando na vida e no amor, percebi que flertar durante a quarentena é preparar um café que não se pode beber agora e pior, deixando para tomar depois há o risco de a bebida já estar fria e todos nós sabemos; café requentado não presta.
É claro que não vamos deixar de flertar; conhecer pessoas novas é importante. Convenhamos, porém, de que é preciso de muita lábia para que o interesse não se esvaia com o tempo.
Falando em matéria de flerte, costumo dizer existe o direto e o indireto.
O flerte direto, como o próprio nome diz, consiste nas famosas “cantadas”. É preciso de criatividade e, acima de tudo, coragem para não assustar seja lá quem for logo de cara.
É por isso que eu prefiro o flerte indireto, que consiste em esperar aberturas na própria conversa para começar a destilar segundas intenções. É uma espécie de jogo de Xadrez em que a conversa é o movimentar das peças e cada xeque é um flerte; podemos afirmar, metaforicamente, que o xeque-mate seriam as segundas intenções já consumadas.
O melhor flerte surge durante o contexto da própria conversa, algo que fora dali não teria prerrogativa ou sentido algum. Além disso, é um excelente termômetro para definir se haverá algo além da amizade, é como colocar os pés na piscina para medir a profundidade. Há quem diga que não sabe flertar, mas ora, algumas pessoas conseguem flertar até com o olhar. Raros, costumo dizer que flertes assim têm como pré-requisito uma sintonia grande e são dotados de uma intensidade ainda maior.
Temo que a partir da publicação desta crônica minhas eventuais pretendentes fiquem a saber como funciona o meu “modus operandi”, então, caro leitor, mantenham essa crônica em segredo, combinado?
A arte do flerte deve ser aproveitada com responsabilidade afetiva, cuidado e, principalmente, lembre-se de nunca acender um fogo que não seja capaz de apagar.
No mais, prefiro acreditar que quando a química é boa o café não esfria.