Crônica

Contando estrelas

outubro 3, 2025 · Pedro K. Calheiros

Outro dia, a contar estrelas, lembrei-me do nosso segundo café; foi o dia em que você me deu um hidratante labial cor-de-rosa e os nossos lábios se tocaram, mesmo que indiretamente, pela primeira vez. É engraçado como as coisas funcionam. Meu olhar a descobriu no dia em que fomos homenageados numa casa legislativa; fiquei encantado com a ruiva misteriosa que, elegante, cruzava o meu caminho. Mal sabia eu que, meses depois, descobriria mais detalhes daquele mundo que, tão rápido, passava pela órbita do meu.

Fizemos uma verdadeira degustação de comida e assuntos variados. O pão de queijo com geleia agora faz parte da lista de comidas de que gosto; o bolo de cenoura se tornou um dos meus favoritos – e o meu café, apesar de você não ter gostado do seu, estava gostoso. Dentre o mundo jurídico, ensaios existencialistas e segredos de liquidificador, senti um gostoso farfalhar. Havia algo de diferente na dialética em curso; há sempre algo de curioso quando duas pessoas descobrem fragmentos da personalidade uma da outra.

Você, dona de um bom gosto impecável, usava um vestido branco; o esmalte vermelho ornava bem a sua unha e a marca do bronze, em destaque na fronteira do decote do seio, era, para a minha literatura, um ponto de partida. Quando, a caminho do segundo destino, começou a tocar a música que batiza esta crônica, torci pelos sinais vermelhos, pelo trânsito e, confesso, para que não percebesse que não tenho qualquer pendor para a quiromancia e que eu só queria uma desculpa boba para tocar as suas mãos.

Há boatos de que iremos tomar um vinho; espero que seja verdade, já faz tempo que não seco uma garrafa e, embriagado de perfume e das ondas do teu olhar, temo que os meus leitores ficarão felizes em ler o próximo capítulo desse livro que, mesmo sem perceber, começamos a escrever juntos. Meus lábios estão hidratados, levemente rosados por conta do seu presente e ansiosos para arrepiar a sua pele após o beijo que vou dar no seu pescoço quando você acabar de ler esse texto.