Poema

A trajetória na Terra e a chegada de Francisco Calheiros no céu

dezembro 6, 2020 · Pedro K. Calheiros

Sempre muito sonhador,
vítima do êxodo rural,
saíste em busca de um ideal.
Abandonaste a dor e a pobreza
para lutar por uma certeza.

Já em Manaus, numa esquina,
Thiago de Mello disse para não cursar medicina:
“Curse letras!”
Meio contrariado, seguindo a intuição,
Francisco cursou letras e ouviu o coração.

Passou o tempo e, com sua maestria,
mostrou que, além dos versos,
na sala de aula também fazia poesia.
Da rede pública para a particular,
teu sapato começou a ser jogado noutro lugar.

Não satisfeito com o magistério
que há anos esteve presente,
decidiu algo novo; queria estar contente.
Foi em busca de um novo conceito:
matriculou-se na faculdade de direito.

Dos livros, lançou três:
Provável Poesia, Quadro Negro
e Canções de Novembro e Algumas Preces.
Irônico é que partiste no mesmo mês,
como bem dizia o livro que tu mesmo fizeste.

A tua partida foi grande surpresa,
que ficaria por muito tempo;
nos era uma velha certeza.
A poesia foi teu recanto de paz.
Hoje, quem lê sente saudade;
no coração, o gostinho de quero mais.

A sala de aula foi teu quintal mais sagrado;
Manuel Bandeira, o poeta mais amado.
Na advocacia, cumpriste a mais bela missão.
Para quem conhece a pequena Isadora,
a alma transborda em gratidão.

Pedro, o poeta; Helena, a artista.
Teus maiores dons ficaram nos teus frutos.
Hoje, mergulhados em luto profundo,
teus filhos guardam a plena certeza
de que tiveram o melhor pai do mundo.

Seu Pedro e dona Sinoca
esperavam na porta a chegada,
meio confusos com a presença
de Machado de Assis,
Clarice Lispector e Florbela Espanca,
dentre tantos outros que queriam ver o poeta.

Ninguém soube ser discreto
e, ardendo em felicidade,
foram contar aos demais escritores a novidade:
Calheiros chegou, Calheiros chegou!