Crônica

Madrugada

dezembro 15, 2024 · Pedro K. Calheiros

O gato mia pedindo para sair do quarto; são 2h35 da noite e eu não poderia estar curtindo a noite de forma mais proveitosa. Uma taça de vinho cairia bem, mas não sei se estou disposto a arcar com os efeitos colaterais que essa inclinação etílica teria com o meu remédio para TDAH.

É o meu primeiro final de semana solteiro; o sentimento é estranho. Se eu fosse um jovem normal, teria ido a alguma festa, flertado com uma garota e, quem sabe, no final a gente acabaria no meu quarto ou em algum outro lugar qualquer.

Nunca gostei de festas, tampouco da sensação estranha que permeia esses ambientes; sempre acreditei que a edição limitada estará em qualquer lugar, menos dando sopa, num muquifo qualquer, com um copo de bebida na mão.

O meu celular vibra com a mensagem de um romance, flerte ou sei lá o quê. Era Ester surpresa, em resposta à minha mensagem, quando disse que nunca havia visto Shrek. A moça jogou no ar, como quem não quer nada, que poderíamos assistir aqui em casa.

Inventei uma desculpa qualquer, disse que estaria ocupado e, em meu íntimo, fiquei a pensar que muito embora o perfume dela fosse gostoso e eu estivesse diante de uma ótima oportunidade para desvendar o mistério que há por de baixo daquele sutiã, minha bateria social beirava a 3%.

A solidão, quando compreendida, vira solitude; e um homem que mora só, após encontrar essa paz, não a negocia por nada.


Nota de rodapé: A crônica é antiga e, portanto, não representa quaisquer aspectos relacionados à vida pessoal do autor no momento presente.