A Extravagância do Morto – Um caso elegante, mas pouco convincente
A Extravagância do Morto é um dos livros em que Agatha Christie demonstra habilidade, mas não atinge o nível de refinamento que consagrou seu nome. A premissa é forte: Poirot chega à Mansão Nesse a pedido de Ariadne Oliver, que teme que uma simples brincadeira de “caça ao assassino” seja usada como fachada para um crime real. E ela está certa. A jovem Marlene Tucker, escalada para interpretar o cadáver fictício, é encontrada morta de verdade. A partir daí, o enigma deixa de ser um jogo e ganha contorno trágico.
A nossa Rainha do Crime cria um cenário interessante, com personagens espalhados numa grande festa, cada um com suas peculiaridades e pequenas contradições. O ambiente é fértil para suspeitas, e a autora conduz a investigação com seu ritmo habitual, alternando depoimentos, percepções e pequenos gestos que, em tese, deveriam formar o quadro geral do crime.
O problema é que o romance não oferece o jogo limpo que se espera de Agatha. A solução apresentada no final não nasce das pistas dadas ao leitor. Ela depende de informações externas, reveladas apenas na conclusão, o que quebra o pacto silencioso do romance policial clássico. Não é a engenhosidade típica da autora. É um desvio. O leitor não tem como deduzir o desfecho, e isso empobrece a experiência.
A escrita continua fluida, a estrutura funciona e Poirot mantém sua elegância investigativa, mas falta a precisão que torna um mistério memorável. A extravagância do morto entretém, mas não entrega a satisfação intelectual que define o gênero. É um livro agradável, porém distante da excelência que se espera quando se abre um livro da Agatha Christie.