Resenha

Assassinato no Expresso do Oriente – O romance que moldou o gênero policial

março 6, 2024 · Pedro K. Calheiros

Assassinato no Expresso do Oriente é um dos poucos romances policiais que justificam, sem esforço, a fama que carregam. Hercule Poirot embarca no trem rumo a Londres por acaso, mas nada ali é casual. Agatha Christie constrói o cenário perfeito para o crime fechado: um vagão isolado pela neve, passageiros variados demais para serem irrelevantes e um assassinato que exige método, lógica e sangue-frio.

A força do livro não está apenas no mistério, mas na forma como Christie organiza as pistas. Cada detalhe é colocado de maneira honesta, sem truques baratos, e isso cria um jogo intelectual raro. O leitor recebe as mesmas informações que Poirot. O desafio é decifrá-las. A autora demonstra um domínio absoluto do gênero, articulando depoimentos, contradições e gestos mínimos como quem monta um relógio suíço. Nada sobra, nada falta.

O ritmo é impecável. Mesmo preso num único ambiente, o romance não perde fôlego. A investigação avança num compasso quase musical, revelando aos poucos o que parece ser apenas mais um homicídio e, depois, desmontando toda suposição precipitada. Christie entrega um final que continua surpreendendo quase nove décadas depois, não pelo choque, mas pelo nível de engenhosidade moral que ele carrega.

Este é um daqueles livros que lembram por que a autora permanece intocável no trono do romance policial. É elegante, preciso e inteligente. Um clássico que não envelhece porque sua estrutura é irretocável.