Crônica

Ensaio da palavra

abril 10, 2018 · Pedro K. Calheiros

Nós não somos o que costumávamos ser. Achei que deveria começar o texto com alguma frase de efeito. Mas é verdade, não? Quantas vezes algo começou bem e acabou, de modo que alguma das partes ficou cega quanto aos motivos do fim? Podemos citar relações amorosas que, se de verdade fossem, uma boa conversa evitaria esse desencontrar de ideias. As amizades que, se fossem reais, mais uma vez não chegariam ao fim por esse motivo.

Não percebe? O diálogo é a base de tudo. Como diria Stephen King: se falar bem não fosse parte da arte da sedução, por que muitos casais iniciam a noite jantando e a terminam na cama? Mas não estamos falando de falar bem, tampouco de sedução. Desconsiderem. Estamos falando de conversação, a base da pirâmide nas relações sociais.

Mas podemos abordar o assunto falar bem, cujas pessoas, ao dominar essa arte, se acham deveras superiores. É claro que a persuasão é intrínseca no mundo dos negócios, nas relações familiares e amorosas, mas, se não acompanharem atitudes sólidas, não passa de uma biblioteca nas mãos de um analfabeto.

Os motivos do fim de uma relação podem ser facilmente solúveis usando o método dedutivo num simples ato de observar e inferir, de forma que há a dissociação de um ciclo que chegou ao fim, de algo que foi encerrado por um motivo desconhecido. No fim dos ciclos, a coisa acaba, perde-se o sentido e, quando se vê, não há mais motivos para continuar com o que há tão pouco nos era tão bom. Vale ressaltar que esse adeus não significa desmerecer tudo o que foi vivido; significa estar maduro e aceitar que sempre há um começo, meio e fim até mesmo para as coisas eternas.

O “encerrado por motivo desconhecido” é mais um retalho sem nexo, um verdadeiro coito sem orgasmo. Cousa de seres que não têm coragem de colocar a cara a tapa e se afastam de maneira gradativa e covarde. Declaro que colocar as cartas na mesa é o melhor caminho, não importa o quão achemos que vai doer. A verdade é que a palavra mais afiada é a do silêncio, que nos corrói sem nada dizer.