Crônica

Carta para a minha amante

dezembro 11, 2022 · Pedro K. Calheiros

O meu sentimento ao enveredar pelas curvas dela é o de que não é a primeira vez. Em cada canto, perdia a linha e, a me envolver mais e mais no mistério daquele corpo, fui percebendo que não poderia morar em outro lugar. Aquele olhar me excitava a alma; sentia, dentro de mim, como se pudesse (e sou) ser capaz de fazer qualquer coisa. A mulher que um dia eu chamar de namorada, esposa ou o que for, que me perdoe, mas vai ter que dividir com ela espaço dentro do meu coração.

É claro que o meu amor pela cidade de Manaus é antigo, sobretudo pela história que há por aqui. Pretendo — e vou — sair daqui por algum tempo, mas sempre com o aperto no coração e a saudade de alguém que verdadeiramente a ama.

Os momentos prestes a chegar ao Largo de São Sebastião são os mesmos que um adolescente apaixonado sente quando está prestes a ver a garota de quem gosta. Cada lugar, um ponto turístico de algum momento da vida que dividi a sós ou com alguém. Quando criança, sempre ia com a minha família comprar revista na tradicional Banca do Largo; era o lugar que meu pai costumava me levar para comer pipoca, observar o céu, sentir o ambiente e conversar sobre as coisas. Atualmente, o Largo é palco de risadas com os amigos, beijos com os amores e reflexão; por vezes, me sinto impelido a ir por lá para ficar sozinho, pensar na vida e relembrar quem diabos eu sou.

A minha curiosidade favorita é que a calçada de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi inspirada no nosso calçadão do Largo, uma vez que, num período não tão distante, quando vivíamos os tempos áureos da borracha, a Paris dos Trópicos já sustentou a economia do país inteiro. E o meu momento favorito vivido por lá foi o meu primeiro beijo. Aliás, escrevi uma crônica falando sobre; aconteceu no Tambaqui de Banda, mas isso é história para outra crônica.

Mas, apesar de tanto te amar, quero eu, cidade querida, partir. Mas nada de ficar triste; quero ir para sentir saudade, para sentir a energia de todos os lugares que eu for e perceber que no teu seio é onde quero estar, para voltar com o sentimento de gratidão pelo porto seguro que tu me és.

“Se tu soubesses, amor, o tanto que eu te amo, tu abririas as portas do Teatro todas as vezes que eu estivesse a passar.”