Crônica

Além do que se vê

outubro 19, 2023 · Pedro K. Calheiros

Quando a avistei pela primeira vez, pensei que fosse uma mulher mais velha. A sua forma de vestir, posteriormente, foi explicada pela sua paixão pelo curso de moda, pelo seu amor pela arte e pelos detalhes que albergam esse mundo das passarelas. Desde a Capitu da Paris dos Trópicos, por alguma razão, me sinto constantemente impelido a enveredar por curvas que tenham qualquer coisa do se vestir bem e do se expressar através da roupa.

A moda, como uma grande cloaca, sempre me atraiu. Por vezes, me vejo imerso nesse mundo, mesmo que a minha seara seja o direito e a cultura. Talvez isso tenha acabado por refletir na minha vida romântica, vai saber…?!

Escreverei sobre a Isabella sem qualquer encantamento, já me foi o tempo em que a minha escrita endeusava a mulher pretendida. Hoje, escreverei sem qualquer censura, com um receio até cômico, propriamente dito, de alguém que se expõe demais. A jovem moça usava um vestido com um decote sutil; acima do seio direito, uma tatuagem, e os seus olhos castanhos claros eram doces. O formato da sua boca, delineado pelo batom, dizia muito; seu jeito me transmitia um ar de mistério. Havia algo ali, precisava eu descobrir se ela era tão encantadora por dentro quanto por fora.

A nossa primeira conversa foi num café; a convidei, como quem não quer nada, para o lançamento do meu livro. Receptiva, disse que iria, sim, que estava feliz por conhecer um escritor. Na semana seguinte, ao encontrá-la na mesma cafeteria, me pediu desculpas, disse que não pôde ir por motivo de força maior. Respondi que tudo bem e a convidei para um café. Ela adorou a ideia, trocamos contatos e eu segui a minha vida.

No dia posterior, perguntei se estava livre às 17h; ela disse que não, mas que, no dia seguinte, estaria. Marcamos numa cafeteria cheia de chocolate, um crime contra mim mesmo, já que sou alérgico. Mudamos de ideia e acabamos no Kalena, uma cafeteria que eu não gostava muito, mas que eu descobri ser uma boa pedida.

A nossa conversa enveredou por assuntos vários; fiquei encantado pela sua história de vida, pela sua forma de ver o mundo e pelo jeito sutil que, até então, eu achava que Isabella destilava segundas intenções com o olhar. Pensei que as minhas intenções eram bem claras, mas acho que eu acabei confundindo tudo porque, no final, ela me diz, de um modo um tanto quanto inocente, que precisava ir embora, pois o namorado estava chegando.

O banho de água fria me ensinou, como lição, a checar e a ser menos direto antes de convidar uma mulher para um café, mas eu conduzi bem a situação, sendo um cavalheiro até ela ir embora para casa com outro.