Crônica

Permanência

agosto 27, 2025 · Pedro K. Calheiros

Ainda me pego pensando em ti no intervalo entre uma agenda e outra. O cheiro do teu perfume insiste em atravessar o quarto; não sei se é delírio, rastro da tua presença ou se ele ficou impregnado nos meus lençóis mesmo depois de eu ter lavado três vezes.

Ainda não aprendi o que fazer com a saudade, nem consegui ocupar os vazios do dia que antes eram guiados, em nossas ligações, pelas notas da tua voz. 

O vazio me confunde: como sentir falta do que nunca me pertenceu? Como, diante da tua dialética, sentir qualquer felicidade quando ela entra em contraste com a tua inércia? Sem um plano de ação concreto, qualquer menção a um futuro é apenas um delírio. 

Num universo de caos e poesia, onde as páginas são meu refúgio e as cartas minha bússola, a lembrança do teu beijo permanece doce. Aquele beijo gostoso, intenso e ao som de Medo bobo.

Te eternizo na escrita como protesto porque certos encontros, mesmo sem promessa de eternidade, viram partitura na prateleira de lembranças para revisitar.

Por aqui, ainda vou remontando meu coração como se fosse aquele Lego que não terminamos de montar. Faz 7 dias que tudo por aqui perdeu a cor. A minha poesia ainda flerta com a tua permanência e as minhas paredes, que não me aguentam mais a falar de ti, ainda reverberam o eco da tua ausência.