Crônica

Entre a névoa e o Sol

agosto 20, 2025 · Pedro K. Calheiros

Não é preciso recorrer às cartas para saber o que alguém sente; o coração se desnuda nos gestos, no silêncio, na presença ou ausência. A vida é clara como um rio em manhã de sol, mas insistimos em turvá-la, jogando pedras de dúvida e criando ondas desnecessárias. No fim, tudo é simples: as coisas apenas são.

No parágrafo anterior há anos de terapia. Antes, embebido por um lirismo exacerbado, criava um mundo à parte. A realidade, ao se apresentar, me mostrava que as coisas não eram bem assim. Mas, cá entre nós, hoje em dia é fácil falar: além de ter saído da ilha, fiz questão de queimá-la.

Talvez a vida seja mesmo um rio sob o sol: simples, claro, correndo sem pedir explicações. Somos nós que, ao erguer névoas de dúvida, deixamos de enxergar que a travessia nunca foi tão difícil quanto a gente inventou.