Sinais de fogo
Há encontros que se anunciam como labaredas. Não vêm com hora marcada, mas deixam no corpo a sensação de queimar antes mesmo de acontecer. Basta um olhar e já não há distância possível entre o gesto e a lembrança. É como se o mundo inteiro conspirasse para acender em nós um incêndio antigo, desses que não se apagam com a chuva da rotina.
A gente espera, então; espera o sinal, o gesto e a coragem que o outro hesita em oferecer. A vida parece um palco de desencontros: você por uma rua, eu por outra, e a cidade inteira como testemunha daquilo que nunca se completou. Interrogamos o espelho, ajeitamos a roupa, inventamos desculpas; mas, no fundo, é sempre a mesma pergunta: onde é que a chama vai se revelar?
Entre tantos lugares, fiquei com a imagem de alguém que risca fósforos invisíveis no ar, como se quisesse me mostrar que ainda está ali, mesmo de longe, enviando sinais de fogo que só eu consigo entender.
Percebo o avesso, logo eu que sempre esperei pelo reencontro: talvez a coragem nunca fosse do outro. Talvez fosse minha. Talvez sempre tenha sido eu quem precisasse atravessar a rua, não para encontrar alguém, mas para me encontrar no meio da noite.
O surpreendente é que, quando finalmente me vi de frente no espelho, não havia ninguém me esperando na esquina e, pela primeira vez, não fez falta. Porque o fogo, esse que eu perseguia em olhares e silêncios, nunca esteve do lado de fora. E quando percebi isso, entendi também: o segundo sol já se foi — e com ele, tudo o que eu esperava ver brilhar